O que é autismo? – neuropsicóloga e neuropediatra do Anita/ISD explicam

Publicado em 28 de outubro de 2020

Alterações na capacidade de comunicação. Dificuldade de interação social e comportamentos repetitivos. Esses são apenas alguns dos sinais que crianças e adolescentes podem apresentar quando estão dentro do Espectro Autista

A neuropsicóloga Samantha Maranhão e a neuropediatra Celina Reis, do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, do Instituto Santos Dumont (ISD), abordaram o assunto nesta terça-feira (27/10), em entrevista ao programa Noite 94, da Rádio Cidade (94 FM). Clique aqui para assistir na íntegra.

Apesar de não ter cura, as especialistas alertam que quanto antes o Transtorno do Espectro Autista (TEA) for diagnosticado, melhor. Elas explicam que crianças adequadamente tratadas podem desenvolver habilidades fundamentais para a reabilitação. 

Celina Reis apontou o diagnóstico precoce como fator que ajuda a incluir melhor crianças com TEA e auxiliar no seu desenvolvimento. “Hoje em dia existe a possibilidade do diagnóstico ser feito de forma precoce, e com isso é possível ampliar a inclusão a partir das terapias que são instituídas, a partir do entendimento da família do que aquela criança sente e da inclusão na escola e na sociedade”, disse. 

Na entrevista, Samantha Maranhão comentou ainda que o TEA é um transtorno de desenvolvimento neurológico que costuma se desenvolver nos primeiros anos de vida da pessoa. Quanto mais cedo o diagnóstico for realizado e o tratamento for iniciado, melhores são as chances de evolução do quadro. 

O Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), do ISD, conta com o Serviço Multidisciplinar de Atenção ao Espectro Autista (SEMEA), referência no atendimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em Macaíba, que atende crianças dos municípios da 7° região de saúde do Rio Grande do Norte (Natal, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará-Mirim, Extremoz e Macau). 

Confira, a seguir, perguntas feitas durante a entrevista e as respostas das especialistas:

ENTREVISTA

Gostaria que explicassem os tipos de Autismo (Karina Medeiros – ouvinte):

Celina Reis: O Autismo, na verdade, a gente chama de Transtorno do Espectro do Autismo porque a apresentação clínica do autismo é muito variada, então tem desde casos leves, de pessoas que são verbais, que falam e conseguem se comunicar, até casos muito graves de pessoas não verbais, com síndromes comportamentais até associadas à deficiência intelectual. A gente não separa em tipos, mas diz que todos os diagnosticados estão no Espectro Autista. Dessa forma a gente pode graduá-los de acordo com a necessidade de apoio, então pode ser um comprometimento mais leve, moderado ou grave. 

O autismo pode ser reversível? e quais são os tratamentos? (Mateus Almeida – ouvinte) 

Samantha Maranhão: O Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, é uma alteração muito perceptível a nível de comportamento, observado já em bebês. O diagnóstico é confirmado e qualificado por volta dos dois anos, mas como é uma alteração que a criança nasce com condições de vida qualitativamente diferentes, já é possível identificar. 

Existem alguns profissionais que falam que a criança saiu do autismo, mas o que a gente observa é que o diagnóstico é difícil de ser fechado, porque é um diagnóstico de observação do comportamento. A gente trabalha no sentido de fazer exames específicos para excluir possibilidades de síndromes genéticas, de quadros de epilepsia, por exemplo, excluir outras possibilidades para a gente ter a certeza do diagnóstico do autismo que é puramente comportamental. O que acontece (em casos em que dizem que o autismo foi revertido) é que ou o quadro da criança é muito leve, com características que ficam imperceptíveis na vida adulta,  (quando) ela continua com dificuldades mas consegue ter autonomia, consegue ter uma inserção social bacana, ou então o diagnóstico foi dado errado, por ser muito difícil. Na nossa concepção de trabalho, não existe essa possibilidade de reversão, o que existe é a dificuldade de diagnóstico que a gente entende que é difícil ou por ser um quadro clínico que é fechado mas é muito leve. 

Existe uma idade mínima para o diagnóstico do autismo? (Giselita Barbosa – ouvinte)

Celina Reis: O sinal do TEA, os sinais de alerta, já estão presentes no 1° ano de vida, então um bebê pode sinalizar que está tendo alguma perturbação, alguma mudança na evolução natural do seu desenvolvimento. Um bebê que no seu primeiro ano de vida não está batendo palminhas, não está aprendendo a dar tchau, que é mais alheio ao social, que tem pouco contato visual, que tem muita dificuldade de adaptação já no primeiro ano de vida, esses sintomas são sinais de alerta para algo que está impactando no desenvolvimento da criança. Quando a criança completa um ano, um ano e meio, ela já tem necessidade de socializar, aí é nesse momento que começa a se chamar atenção a uma dificuldade de socialização e também começam a aparecer comportamentos diferentes, interesses diferentes, brincar de maneira diferenciada, brincar mais sozinho, enfileirando ou empilhando. São sinais que vão aparecendo e que a gente deve suspeitar no primeiro ano e consolidar no segundo ano. Quando o diagnóstico é feito até dois anos e meio, ele está no tempo certo, mas pode ser feito em qualquer idade. 

É verdade que uma das características predominantes é o sono irregular? (Giselita Barbosa – ouvinte) 

Celina Reis: No primeiro ano de vida algumas crianças apresentam muita dificuldade de adaptação no sono, às vezes tem sono agitado, as crianças maiores tem dificuldade pra começar o sono, demoram a dormir ou tem o sono mais inquieto e agitado. Isso é variado, mas é verdade, isso acontece. 

Como a gente deve incluir o autista já que ele prefere estar mais “na dele”? Juninho Cabral – apresentador do programa)

Samantha Maranhão: É encontrar o equilíbrio, porque ao mesmo tempo que a gente precisa respeitar essa criança, esse espaço, ao mesmo tempo, como vivemos em uma sociedade que preza pela interação, a gente precisa ensinar pra essa criança que o mundo é permeado por interação e que ela precisa também interagir, aprender a se comunicar com a sociedade em que ela está envolvida.  

E essa transição da infância para a adolescência e para a fase adulta? Como a família pode ajudar na transição entre essas fases? (Juninho Cabral – apresentador do programa)

Samantha Maranhão: São pessoas com autismo, elas não se resumem ao autismo, são pessoas em desenvolvimento, então a orientação que a gente sempre dá para as famílias é entender que muitas vezes uma queixa de comportamento pode ser fruto da idade, que qualquer outra pessoa em desenvolvimento pode passar. Por exemplo, da infância para a adolescência, a puberdade estava aflorando, naturalmente o corpo está em transformação por questões hormonais, então as demandas muitas vezes não são do autismo, mas da puberdade. 

A entrada na vida adulta vem com uma angústia de inserção no mercado de trabalho, da mesma forma que a gente precisa fazer um acolhimento de orientação profissional para qualquer pessoa, as pessoas com autismo também precisam de apoio, de uma orientação voltada para o mercado de trabalho e para a sua realidade. 

Então é entender que o autismo traz uma condição diferente de desenvolvimento que vai trazer repercussões na vida adulta e no envelhecimento, mas não esquecer que são pessoas e que muitas vezes as demandas fazem parte desse processo de desenvolvimento fisiológico e comportamental. 

A negação para não procurar um especialista e fechar um diagnóstico é muito comum. (Karina Marinho – ouvinte)

Sim, é muito frequente, o que acontece é que quando uma família tem uma criança pequena ela idealiza um futuro, ela coloca expectativas de vida muito importantes para aquela criança, e quando a família começa a observar e comparar com o irmão, primo, vizinho, colegas e começa a perceber que a criança é diferente do grupo, vem o sofrimento. Essa expectativa começa a mudar, existe ainda uma relação muito negativa quanto ao autismo, quando a gente fala em autismo se pensa muito em um futuro negativo, e isso traz um sofrimento muito grande. É olhar para o filho e pensar que ele vai ter um futuro ruim se o diagnóstico for fechado. Então essa negação é bem frequente. 

Texto:  Kamila Tuenia – *estagiária de jornalismo / Ascom – ISD (*Sob supervisão da jornalista Renata Moura)

Vídeo: Reprodução do canal da 94 FM no YouTube,

Assessoria de Comunicação
comunicacao@isd.org.br
(84) 99416-1880

Instituto Santos Dumont (ISD)

É uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.

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A neuropsicóloga Samantha Maranhão e a neuropediatra Celina Reis, do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, do Instituto Santos Dumont (ISD), abordaram o assunto nesta terça-feira (27/10), em entrevista ao programa Noite 94, da Rádio Cidade (94 FM). Clique aqui para assistir na íntegra.

Apesar de não ter cura, as especialistas alertam que quanto antes o Transtorno do Espectro Autista (TEA) for diagnosticado, melhor. Elas explicam que crianças adequadamente tratadas podem desenvolver habilidades fundamentais para a reabilitação. 

Celina Reis apontou o diagnóstico precoce como fator que ajuda a incluir melhor crianças com TEA e auxiliar no seu desenvolvimento. “Hoje em dia existe a possibilidade do diagnóstico ser feito de forma precoce, e com isso é possível ampliar a inclusão a partir das terapias que são instituídas, a partir do entendimento da família do que aquela criança sente e da inclusão na escola e na sociedade”, disse. 

Na entrevista, Samantha Maranhão comentou ainda que o TEA é um transtorno de desenvolvimento neurológico que costuma se desenvolver nos primeiros anos de vida da pessoa. Quanto mais cedo o diagnóstico for realizado e o tratamento for iniciado, melhores são as chances de evolução do quadro. 

O Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), do ISD, conta com o Serviço Multidisciplinar de Atenção ao Espectro Autista (SEMEA), referência no atendimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em Macaíba, que atende crianças dos municípios da 7° região de saúde do Rio Grande do Norte (Natal, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará-Mirim, Extremoz e Macau). 

Confira, a seguir, perguntas feitas durante a entrevista e as respostas das especialistas:

ENTREVISTA

Gostaria que explicassem os tipos de Autismo (Karina Medeiros – ouvinte):

Celina Reis: O Autismo, na verdade, a gente chama de Transtorno do Espectro do Autismo porque a apresentação clínica do autismo é muito variada, então tem desde casos leves, de pessoas que são verbais, que falam e conseguem se comunicar, até casos muito graves de pessoas não verbais, com síndromes comportamentais até associadas à deficiência intelectual. A gente não separa em tipos, mas diz que todos os diagnosticados estão no Espectro Autista. Dessa forma a gente pode graduá-los de acordo com a necessidade de apoio, então pode ser um comprometimento mais leve, moderado ou grave. 

O autismo pode ser reversível? e quais são os tratamentos? (Mateus Almeida – ouvinte) 

Samantha Maranhão: O Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, é uma alteração muito perceptível a nível de comportamento, observado já em bebês. O diagnóstico é confirmado e qualificado por volta dos dois anos, mas como é uma alteração que a criança nasce com condições de vida qualitativamente diferentes, já é possível identificar. 

Existem alguns profissionais que falam que a criança saiu do autismo, mas o que a gente observa é que o diagnóstico é difícil de ser fechado, porque é um diagnóstico de observação do comportamento. A gente trabalha no sentido de fazer exames específicos para excluir possibilidades de síndromes genéticas, de quadros de epilepsia, por exemplo, excluir outras possibilidades para a gente ter a certeza do diagnóstico do autismo que é puramente comportamental. O que acontece (em casos em que dizem que o autismo foi revertido) é que ou o quadro da criança é muito leve, com características que ficam imperceptíveis na vida adulta,  (quando) ela continua com dificuldades mas consegue ter autonomia, consegue ter uma inserção social bacana, ou então o diagnóstico foi dado errado, por ser muito difícil. Na nossa concepção de trabalho, não existe essa possibilidade de reversão, o que existe é a dificuldade de diagnóstico que a gente entende que é difícil ou por ser um quadro clínico que é fechado mas é muito leve. 

Existe uma idade mínima para o diagnóstico do autismo? (Giselita Barbosa – ouvinte)

Celina Reis: O sinal do TEA, os sinais de alerta, já estão presentes no 1° ano de vida, então um bebê pode sinalizar que está tendo alguma perturbação, alguma mudança na evolução natural do seu desenvolvimento. Um bebê que no seu primeiro ano de vida não está batendo palminhas, não está aprendendo a dar tchau, que é mais alheio ao social, que tem pouco contato visual, que tem muita dificuldade de adaptação já no primeiro ano de vida, esses sintomas são sinais de alerta para algo que está impactando no desenvolvimento da criança. Quando a criança completa um ano, um ano e meio, ela já tem necessidade de socializar, aí é nesse momento que começa a se chamar atenção a uma dificuldade de socialização e também começam a aparecer comportamentos diferentes, interesses diferentes, brincar de maneira diferenciada, brincar mais sozinho, enfileirando ou empilhando. São sinais que vão aparecendo e que a gente deve suspeitar no primeiro ano e consolidar no segundo ano. Quando o diagnóstico é feito até dois anos e meio, ele está no tempo certo, mas pode ser feito em qualquer idade. 

É verdade que uma das características predominantes é o sono irregular? (Giselita Barbosa – ouvinte) 

Celina Reis: No primeiro ano de vida algumas crianças apresentam muita dificuldade de adaptação no sono, às vezes tem sono agitado, as crianças maiores tem dificuldade pra começar o sono, demoram a dormir ou tem o sono mais inquieto e agitado. Isso é variado, mas é verdade, isso acontece. 

Como a gente deve incluir o autista já que ele prefere estar mais “na dele”? Juninho Cabral – apresentador do programa)

Samantha Maranhão: É encontrar o equilíbrio, porque ao mesmo tempo que a gente precisa respeitar essa criança, esse espaço, ao mesmo tempo, como vivemos em uma sociedade que preza pela interação, a gente precisa ensinar pra essa criança que o mundo é permeado por interação e que ela precisa também interagir, aprender a se comunicar com a sociedade em que ela está envolvida.  

E essa transição da infância para a adolescência e para a fase adulta? Como a família pode ajudar na transição entre essas fases? (Juninho Cabral – apresentador do programa)

Samantha Maranhão: São pessoas com autismo, elas não se resumem ao autismo, são pessoas em desenvolvimento, então a orientação que a gente sempre dá para as famílias é entender que muitas vezes uma queixa de comportamento pode ser fruto da idade, que qualquer outra pessoa em desenvolvimento pode passar. Por exemplo, da infância para a adolescência, a puberdade estava aflorando, naturalmente o corpo está em transformação por questões hormonais, então as demandas muitas vezes não são do autismo, mas da puberdade. 

A entrada na vida adulta vem com uma angústia de inserção no mercado de trabalho, da mesma forma que a gente precisa fazer um acolhimento de orientação profissional para qualquer pessoa, as pessoas com autismo também precisam de apoio, de uma orientação voltada para o mercado de trabalho e para a sua realidade. 

Então é entender que o autismo traz uma condição diferente de desenvolvimento que vai trazer repercussões na vida adulta e no envelhecimento, mas não esquecer que são pessoas e que muitas vezes as demandas fazem parte desse processo de desenvolvimento fisiológico e comportamental. 

A negação para não procurar um especialista e fechar um diagnóstico é muito comum. (Karina Marinho – ouvinte)

Sim, é muito frequente, o que acontece é que quando uma família tem uma criança pequena ela idealiza um futuro, ela coloca expectativas de vida muito importantes para aquela criança, e quando a família começa a observar e comparar com o irmão, primo, vizinho, colegas e começa a perceber que a criança é diferente do grupo, vem o sofrimento. Essa expectativa começa a mudar, existe ainda uma relação muito negativa quanto ao autismo, quando a gente fala em autismo se pensa muito em um futuro negativo, e isso traz um sofrimento muito grande. É olhar para o filho e pensar que ele vai ter um futuro ruim se o diagnóstico for fechado. Então essa negação é bem frequente. 

Texto:  Kamila Tuenia – *estagiária de jornalismo / Ascom – ISD (*Sob supervisão da jornalista Renata Moura)

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