Preceptora do CEPS defende Mestrado na maior Comunidade Quilombola do RN

Publicado em 29 de maio de 2018

O Dia Internacional da África, celebrado em 25 de maio, foi bastante especial para o Instituto Santos Dumont (ISD) no ano de 2018: Carolina Damásio, preceptora médica do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (CEPS), defendeu a dissertação de mestrado “ ‘Eu não tinha a menor ideia do que eu podia aprender aqui…’ – Educação das profissões da saúde e competência cultural” na própria Comunidade Quilombola que acolheu seus estudos: Capoeiras, localizada em Macaíba (RN). O trabalho acadêmico, feito no âmbito do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (MPES), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), analisa dados do Projeto Barriguda, desenvolvido desde 2015 pelo ISD, em Capoeiras. A médica infectologista embasou sua pesquisa a partir das experiências obtidas na disciplina de graduação “Competência Cultural na Atenção à Saúde da Mulher Quilombola”, oferecida de forma inédita no Brasil pelo Departamento de Tocoginecologia da UFRN, em parceria com o ISD.

VEJA IMAGENS DA DEFESA DE MESTRADO EM CAPOEIRAS

Carolina Damásio durante a defesa de sua Dissertação no Centro Comunitário de Capoeiras, em Macaíba (RN).

Carolina explica que a disciplina tem como finalidade contribuir com o desenvolvimento da competência cultural na formação dos profissionais de saúde, o que segundo ela, é a capacidade do profissional oferecer um atendimento de qualidade a pacientes de origens étnicas e culturalmente diversas, respeitando os valores, crenças e modos de vida individuais ou grupais do paciente. Ela lembra que em muitos países essa reflexão já integra a formação dos profissionais de saúde, porém poucas experiências dessa natureza fazem parte dos currículos de graduação no Brasil. “A integração ensino-serviço-comunidade é de extrema importância na formação destes futuros profissionais, pois dá a eles a oportunidade de vivenciarem e entenderem os contextos nos quais os pacientes estão inseridos. Então, dessa forma, essa experiência pode ajudar na compreensão das dificuldades, dos processos de saúde e doença, dos aspectos culturais e dos modos de vida dessas pessoas”, analisa a médica.

Experiência em Capoeiras une assistência materno-infantil e educação em saúde

 

Muitas pessoas de Capoeiras se prontificaram a assistir à defesa do Mestrado, inédita na Comunidade e também na História da UFRN, segundo um dos membros da banca examinadora, George Dantas de Azevedo, Diretor da Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte (EMCM/UFRN). Em sua fala após a defesa, o Professor pontuou o momento como sendo de extrema importância dentro dos 60 anos de existência da UFRN, visto que pela primeira vez em sua história foi realizada uma defesa de mestrado em uma comunidade rural. “Fazer a Universidade fora dos seus muros é um projeto de vida para mim,”, enfatizou George, que também refletiu sobre possíveis desdobramentos do Projeto Barriguda, com participação cada vez maior da Comunidade na tomada de decisões.

Durante a arguição, outro membro da banca, Henry de Holanda Campos, Reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), fez comentários sobre as repercussões na formação dos futuros profissionais de saúde que passaram pela disciplina oferecida no contexto do Projeto Barriguda: “A experiência dá a eles quase uma obrigação de serem profissionais mais humanos, mais abertos para a compreensão do sofrimento, da dor, com mais compaixão, porque eu acho que isso é o mais importante e mais bonito nas profissões da saúde. Talvez vão fazer mais perguntas, ao invés de achar que têm todas as respostas. Vão procurar falar de uma maneira mais acessível aos pacientes. Talvez vão aprender a usar a comunicação verbal e a não-verbal. Eu acho que isso é uma maneira de realmente transformar as pessoas”.

Reginaldo Freitas Júnior, Professor orientador da dissertação de Mestrado junto ao MPES/UFRN e Diretor de Ensino e Pesquisa do ISD, afirmou: “A grande maioria das pessoas do mundo já acreditou que uma máquina mais pesada que o ar jamais voaria, até que alguém se mostrou aberto para novas possibilidades e foi capaz de mudar a realidade que estava posta. É isso que o Projeto Barriguda representa para a formação das profissões da saúde e são essas pessoas que queremos formar para fortalecer o sistema de saúde do nosso país: abertas para novas possibilidades, capazes de quebrar padrões postos e transformar as realidades adversas que as rodeiam. A educação baseada na comunidade tem esse poder e é muito importante que o ISD e a UFRN estejam voando juntos nessa direção.”

Carolina com alunas atualmente matriculadas na disciplina oferecida pela UFRN e ISD.
Banca examinadora e o público assistem à apresentação durante defesa do Mestrado.
Lideranças de Capoeiras estiveram presentes: Maria Barbosa, Manoel Batista e Liliane Moura.

Passaram pela disciplina Competência Cultural na Atenção à Saúde da Mulher Quilombola, 32 alunos de graduação da UFRN entre 2016 e o primeiro semestre de 2018. Renata de Paiva Pacheco, estudante do 7º período do curso de medicina e atualmente matriculada na disciplina, compartilhou suas impressões sobre essa experiência acadêmica inovadora, dizendo que é a primeira vez em que viu um trabalho sendo co-criado a partir das demandas da própria comunidade. “A gente tem uma lacuna imensa no currículo no que se refere ao trabalho de competência cultural. É preciso entender que as necessidades das pessoas não são só em relação à doença física ou à patologia, mas que as preocupações do dia a dia, o que elas entendem que é saúde e que é doença são fatores que influenciam na condição de saúde, no bem-estar, na qualidade de vida delas. E, enquanto profissional, a gente precisa entender isso para poder prestar uma assistência mais efetiva a todas as pessoas”, refletiu a aluna.

Após a defesa, os líderes da comunidade falaram emocionados sobre a experiência de sediar esse momento histórico. O Presidente da Associação Quilombola dos Moradores de Capoeiras, Manoel Batista dos Santos, externou, emocionado, sua alegria em ver a comunidade vivenciando a defesa de mestrado de Carolina, que foi aprovada por todos os membros da banca. Após os aplausos e já refeita da tensão pela espera do resultado, Maria das Graças Barbosa, líder comunitária da Associação Quilombola dos Moradores de Capoeiras, falou: “Achei uma experiência muito nova. Nunca tinham feito isso aqui. A gente ouvia falar, mas de vir fazer aqui… Nossa! Eu estou emocionada até agora. Achei lindo demais. Carol sendo avaliada aqui, esperando e a gente esperou com ela. Foi muito lindo!”.

Mais sobre o Projeto Barriguda AQUI.

Veja também:

Projeto Barriguda é premiado em competição internacional

Matéria do Jornal Tribuna do Norte (RN):

Um olhar especial para os quilombos

Texto e fotos:  Ariane Mondo / Ascom – ISD

Assessoria de Comunicação
comunicacao@isd.org.br
(84) 99416-1880

Instituto Santos Dumont (ISD)

Organização Social que mantém vínculo com o Ministério da Educação (MEC) e cuja missão é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão e contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.

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VEJA IMAGENS DA DEFESA DE MESTRADO EM CAPOEIRAS

Carolina Damásio durante a defesa de sua Dissertação no Centro Comunitário de Capoeiras, em Macaíba (RN).

Carolina explica que a disciplina tem como finalidade contribuir com o desenvolvimento da competência cultural na formação dos profissionais de saúde, o que segundo ela, é a capacidade do profissional oferecer um atendimento de qualidade a pacientes de origens étnicas e culturalmente diversas, respeitando os valores, crenças e modos de vida individuais ou grupais do paciente. Ela lembra que em muitos países essa reflexão já integra a formação dos profissionais de saúde, porém poucas experiências dessa natureza fazem parte dos currículos de graduação no Brasil. “A integração ensino-serviço-comunidade é de extrema importância na formação destes futuros profissionais, pois dá a eles a oportunidade de vivenciarem e entenderem os contextos nos quais os pacientes estão inseridos. Então, dessa forma, essa experiência pode ajudar na compreensão das dificuldades, dos processos de saúde e doença, dos aspectos culturais e dos modos de vida dessas pessoas”, analisa a médica.

Experiência em Capoeiras une assistência materno-infantil e educação em saúde

 

Muitas pessoas de Capoeiras se prontificaram a assistir à defesa do Mestrado, inédita na Comunidade e também na História da UFRN, segundo um dos membros da banca examinadora, George Dantas de Azevedo, Diretor da Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte (EMCM/UFRN). Em sua fala após a defesa, o Professor pontuou o momento como sendo de extrema importância dentro dos 60 anos de existência da UFRN, visto que pela primeira vez em sua história foi realizada uma defesa de mestrado em uma comunidade rural. “Fazer a Universidade fora dos seus muros é um projeto de vida para mim,”, enfatizou George, que também refletiu sobre possíveis desdobramentos do Projeto Barriguda, com participação cada vez maior da Comunidade na tomada de decisões.

Durante a arguição, outro membro da banca, Henry de Holanda Campos, Reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), fez comentários sobre as repercussões na formação dos futuros profissionais de saúde que passaram pela disciplina oferecida no contexto do Projeto Barriguda: “A experiência dá a eles quase uma obrigação de serem profissionais mais humanos, mais abertos para a compreensão do sofrimento, da dor, com mais compaixão, porque eu acho que isso é o mais importante e mais bonito nas profissões da saúde. Talvez vão fazer mais perguntas, ao invés de achar que têm todas as respostas. Vão procurar falar de uma maneira mais acessível aos pacientes. Talvez vão aprender a usar a comunicação verbal e a não-verbal. Eu acho que isso é uma maneira de realmente transformar as pessoas”.

Reginaldo Freitas Júnior, Professor orientador da dissertação de Mestrado junto ao MPES/UFRN e Diretor de Ensino e Pesquisa do ISD, afirmou: “A grande maioria das pessoas do mundo já acreditou que uma máquina mais pesada que o ar jamais voaria, até que alguém se mostrou aberto para novas possibilidades e foi capaz de mudar a realidade que estava posta. É isso que o Projeto Barriguda representa para a formação das profissões da saúde e são essas pessoas que queremos formar para fortalecer o sistema de saúde do nosso país: abertas para novas possibilidades, capazes de quebrar padrões postos e transformar as realidades adversas que as rodeiam. A educação baseada na comunidade tem esse poder e é muito importante que o ISD e a UFRN estejam voando juntos nessa direção.”

Carolina com alunas atualmente matriculadas na disciplina oferecida pela UFRN e ISD.
Banca examinadora e o público assistem à apresentação durante defesa do Mestrado.
Lideranças de Capoeiras estiveram presentes: Maria Barbosa, Manoel Batista e Liliane Moura.

Passaram pela disciplina Competência Cultural na Atenção à Saúde da Mulher Quilombola, 32 alunos de graduação da UFRN entre 2016 e o primeiro semestre de 2018. Renata de Paiva Pacheco, estudante do 7º período do curso de medicina e atualmente matriculada na disciplina, compartilhou suas impressões sobre essa experiência acadêmica inovadora, dizendo que é a primeira vez em que viu um trabalho sendo co-criado a partir das demandas da própria comunidade. “A gente tem uma lacuna imensa no currículo no que se refere ao trabalho de competência cultural. É preciso entender que as necessidades das pessoas não são só em relação à doença física ou à patologia, mas que as preocupações do dia a dia, o que elas entendem que é saúde e que é doença são fatores que influenciam na condição de saúde, no bem-estar, na qualidade de vida delas. E, enquanto profissional, a gente precisa entender isso para poder prestar uma assistência mais efetiva a todas as pessoas”, refletiu a aluna.

Após a defesa, os líderes da comunidade falaram emocionados sobre a experiência de sediar esse momento histórico. O Presidente da Associação Quilombola dos Moradores de Capoeiras, Manoel Batista dos Santos, externou, emocionado, sua alegria em ver a comunidade vivenciando a defesa de mestrado de Carolina, que foi aprovada por todos os membros da banca. Após os aplausos e já refeita da tensão pela espera do resultado, Maria das Graças Barbosa, líder comunitária da Associação Quilombola dos Moradores de Capoeiras, falou: “Achei uma experiência muito nova. Nunca tinham feito isso aqui. A gente ouvia falar, mas de vir fazer aqui… Nossa! Eu estou emocionada até agora. Achei lindo demais. Carol sendo avaliada aqui, esperando e a gente esperou com ela. Foi muito lindo!”.

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