Preparar pessoas com lesão medular para o uso de cadeiras de rodas motorizada. Esse é o objetivo de um jogo virtual desenvolvido por pesquisadores no Instituto Santos Dumont (ISD), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que reproduz uma pista virtual com obstáculos, onde pessoas com tetraplegia podem praticar o controle da cadeira de rodas a partir do manejo de um joystick (controle remoto) adaptado, equivalente ao dispositivo eletrônico utilizado para mover a cadeira.
Atualmente em fase de testes, o jogo visa facilitar a adaptação dos pacientes e reduzir os riscos de acidentes provocados pelo uso inadequado de cadeiras de rodas motorizadas. Diferentemente das manuais, as motorizadas são equipadas com motores elétricos, permitindo o deslocamento do usuário sem a necessidade de empurrar, e são controladas por meio de um controle remoto, que direciona o equipamento e também regula a sua velocidade.
“Sem o conhecimento adequado de como esse sistema funciona, os riscos de acidentes são maiores”, observa a preceptora fisioterapeuta do ISD, Fabíola Campos, uma das pesquisadoras envolvidas no desenvolvimento do simulador virtual. A profissional lembra que, além dos riscos de quedas, colisões e perda de controle do dispositivo, a falta de adaptação às cadeiras motorizadas pode desestimular o uso delas pelos pacientes, deixando-as sem função.
O jogo virtual foi desenvolvido pelo estudante de Engenharia Biomédica da UFRN, Alex Batista, a partir de uma demanda dos usuários da linha de cuidado da Lesão Medular do ISD. Alex realiza iniciação científica no Instituto e desenvolveu a interface e a programação do simulador. Ele contou com a colaboração de outros pesquisadores do ISD e com sugestões dos próprios pacientes para aprimorar a jogabilidade e o manejo do dispositivo. O jogo está sendo testado clinicamente há cerca de dois meses.
“O jogo tem um joystick que simula o controle da cadeira de rodas. Esse sinal é enviado através de um microcontrolador, via bluetooth, para o celular ou computador onde o jogo está rodando e permite a jogabilidade, com o paciente executando comandos para frente, para trás e na diagonal. O avatar passa por obstáculos em um circuito, com retas e curvas. Depois que o jogo termina, o profissional de saúde pode observar o tempo levado para executar o teste e se houve colisões durante o percurso”, explica Alex.
Além de possibilitar que o paciente seja treinado para comandar a cadeira de rodas motorizadas, “o jogo tem potencial para favorecer a ativação muscular dos membros superiores, permitindo que o paciente alcance outras atividades funcionais”, afirma Fabíola Campos.
José Marinaldo Júnior, de 19 anos, é um dos pacientes que participa dos testes com o simulador. Ele perdeu os movimentos dos membros inferiores e superiores após sofrer um acidente de trabalho no fim do ano passado e está na fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS) para receber uma cadeira de rodas motorizada. Enquanto aguarda a concessão, ele pratica testes de adaptação virtual no simulador com auxílio dos profissionais do ISD. A intenção é que o processo de adaptação de Júnior à cadeira ocorra de forma segura e em menor tempo.
Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFRN e pesquisador voluntário no ISD, José Carlos Gomes da Silva também participou ativamente do desenvolvimento do jogo. Ele reforça a importância do dispositivo para melhora da qualidade de vida do paciente com lesão medular que precisa da cadeira de rodas motorizada.
“Como profissional da saúde, vejo mais o lado da utilização, de como esse ambiente pode ser construído, ou se tem obstáculos, por exemplo. No programa de computador, a gente trabalha com fases: à medida que o paciente vai evoluindo, as fases vão sendo dificultadas. Nessa dificuldade, a gente tem como fazer a manipulação do ambiente, trabalhando em cima da característica do próprio paciente”, afirma.
Software recebe registro de propriedade intelectual
Na última semana, o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) concedeu o registro definitivo de software para o simulador de cadeiras de rodas motorizada. O pedido para concessão da patente foi realizado em parceria com Agência de Inovação da UFRN (Agir). O registro garante a propriedade intelectual e comprova a autoria de seu desenvolvimento perante o Poder Judiciário.
O projeto contou com a participação de oito pesquisadores durante o seu processo de desenvolvimento: Alex Batista da Costa, Breno Guilherme de Araújo Tinoco Cabral, Edgard Morya, Fabíola Rodrigues de França Campos, Fábio Ricardo de Oliveira Galvão, José Carlos Gomes da Silva, Luiz Henrique Bertucci Borges e Paulo Moreira Silva Dantas.
Os inventores interessados em registrar programas de computador têm a opção de, acessando o endereço eletrônico da Agir, visualizar um passo a passo elaborado pela equipe da Agência. Dúvidas adicionais podem ser solucionadas pelos telefones (84) 99167-6589 ou (84) 99224-0076.
Sobre o ISD
O Instituto Santos Dumont é uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.