Batizada de PyRAT, em alusão à linguagem de programação python, que foi utilizada pelos pesquisadores no desenvolvimento da biblioteca, a ferramenta chega ao público em formato aberto, de forma que qualquer pesquisador poderá tanto utilizá-la em seus estudos para facilitar as análises de dados, como também poderá contribuir para sua melhoria constante, adicionando novas funções que podem surgir a partir de necessidades identificadas nos experimentos. A partir dos vídeos dos experimentos gravados pelos pesquisadores, a PyRAT é capaz de identificar diversos comportamentos animais e humanos, e apresentá-los de forma organizada.
“Nós temos experimentos que giram em torno de 20 a 30 minutos, mas são muitos animais. Então, para uma pessoa assistir os vídeos, ver tudo que está acontecendo e ainda fazer anotações sobre o comportamento para só então partir para a análise, o trabalho poderia facilmente se estender por um período de, digamos, 16 horas”, relata Túlio Almeida, fisioterapeuta e mestre em Neuroengenharia pelo ISD, que integrou o projeto. “O que a gente fez foi criar uma ferramenta a partir da qual o computador possa fazer isso para nós”, completa.
Pelo fato da Neurociência e a Neuroengenharia serem áreas essencialmente multidisciplinares, pelas quais transitam diversas especialidades como Ciências Biológicas, Engenharias e Ciências da Saúde, os pesquisadores enxergaram a necessidade de criar a ferramenta para facilitar a vida daqueles que estão familiarizados com os experimentos, mas não necessariamente possuem os conhecimentos de programação que facilitam a análise dos dados coletados.
Engenheiro biomédico graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestrando em Neuroengenharia pelo ISD, Bruno Guedes Spinelli, que participou da concepção da PyRAT, explica que já existem ferramentas disponíveis para análise de comportamento dos animais a partir dos vídeos, entretanto, elas possuem algumas limitações. “Nós temos dois cenários: há softwares abertos, mas que não reúnem todas as ferramentas em um só lugar, então acaba ficando muito difuso e trabalhoso para o pesquisador ir atrás de cada uma. Do outro lado, temos ferramentas mais completas, mas que são pagas e muito fechadas, ou seja, não possibilitam que façamos algumas alterações que às vezes são necessárias quando se trabalha com experimentação animal”, afirma.
Acesso aberto
A PyRAT é uma biblioteca de acesso aberto e código livre, o que permite não apenas que qualquer pessoa possa utilizá-la, mas também possibilita uma colaboração constante entre pesquisadores de várias partes do mundo, que podem ajudar a melhorá-la de forma permanente. “É muito importante que existam essas ferramentas de código aberto e acesso livre, porque é isso que vai permitir que a gente avance cada vez mais no aperfeiçoamento desses sistemas automatizados.”, afirma Bruno Spinelli.
O artigo completo foi publicado sob o título “PyRAT: An Open-Source Python Library for Animal Behavior Analysis” [“PyRAT: uma biblioteca em Python de código aberto para análise de comportamento animal”, em tradução livre], e está disponível no site do periódico Frontiers in Neuroscience. Para acessá-lo, clique aqui.